quinta-feira, 6 de julho de 2017

Medeia em três contextos e umas dicas sobre ABNT

Fala, galera! Tudo bem?

Esse foi um Trabalho apresentado a título de 1ª avaliação escrita da disciplina TEAA14, Poéticas da encenação, T01, semestre letivo 2017.1, sob a orientação do professor Paulo Cunha.

Coloco aqui na íntegra para quem quiser dar uma olhadinha. 

Muita gente não faz as coisas como deveriam, pegam um trabalho pronto, copiam e colam e acham que tá tudo bem. Não está. Cada parágrafo precisa ser referenciado. Senão é uma construção original sua, tem que ter a referência. PLÁGIO É CRIME, LEMBRE-SE DISSO!

A ABNT regulamenta isso e deve ser obedecida. Não é um bicho-de-sete-cabeças. MAS PRECISA APRENDER PRATICANDO TAMBÉM.

Eu usei a Wikipedia, pois ela possui textos interessantes, no entanto, academicamente deve se evitar documentos de internet sem autoria. Teses, Dissertações, monografias, artigos,  são fontes mais confiáveis, pois foram submetidas a uma comissão de professores para aprová-las. Não é preciso ler tudo para utilizar o que nos interessa. 

Num trabalho academico disponibilizado na net, abra e dê "control F" na palavra-chave que você buscou. Leia, compreenda. Aproprie-se, se for o caso, MAS DÊ O CREDITO AO AUTOR QUE ESCREVEU. SE NÃO FOI VOCÊ, REPITO, TEM QUE TER REFERÊNCIA AO FINAL DO PARÁGRAFO.

DICAS DE ABNT

Caso pegue algo que foi escrito por mim, a referência correta seria conforme vou explicar.

Citação literal, onde vc pega exatamente o que eu disse:

a) Ate três linhas, vc aspeia e ao final coloca autor e ano.

"A peça é centrada na ação entre dois atores, simples de encenar, no entanto, de grande efeito moral e psicológico. Os encontros entre Medéia e a Nutriz, o mensageiro, Jasão, Creonte e Egeu dão conta de toda história." (PINNA, 2017)

b) Mais de três linhas, NÃO USA ASPAS!!! Usara um parágrafo próprio, recuado e tem que colocar a PÁGINA . VOCÊ ESCREVE UM PARÁGRAFO E COSTURA COM O QUE REFORÇA O QUE VOCê DISSE, DE FORMA LITERAL. Ex:

Segundo Malhadas (2017) A tragédia surge durante as Grandes Dionisíacas, também conhecidas por Dionísiacas Urbanas e que eram grandes celebrações em honra ao deus Dioniso e representavam um dos eventos mais importantes da polis.
A cada nova primavera, homens e mulheres se reuniam no théatron para assistir a peças que representavam velhos mitos recriados pelas mãos dos dramaturgos. Dessa forma, os festivais representavam não apenas uma instituição religiosa, mas faziam parte da vida política e social. [...] Dentre os espetáculos, tínhamos a tragédia grega. No âmbito desse gênero de produção dramática, importa destacar três nomes que sobreviveram às intempéries, às falácias do tempo e da memória: Ésquilo, Sófocles e Eurípides. (ANJOS, 2014, p. 61)

Note você não leu o texto de Malhadas, vc esta vendo ela citada no meu trabalho. Isso é citação da citação. Então entra o termo apud. E no caso, eu usei "segundo", pois não é uma transcrição do pensamento dela de forma literal. Eu que escrevi com base nela. Mesmo assim tem que citar, compreende?
Então, se vc decidisse e utilzar desse parágrafo, usaria a regra já explicada, colocando (MALHADAS, apud PINNA, 2017)


Já com ANJOS, eu peguei igual e tem mais de 3 linhas, então é recuo de 4 cm. Aqui no blog não tenho como ver se este recuo está certo. Mas no Word tem.

Outro exemplo. Eu escrevi a partir de leitura da peça e não de alguem que fala dela. Portanto é uma construção pessoal, que deve estar presente em todo texto. Se não, qual sua contribuição? Nesse caso, digamos que vc gostou do que eu disse, mas quer acrescentar, modificar, com suas palavras. Você, pode e se chama "parafrasear. Digamos que vc leu o seguinte:

Ela consegue manipular a todos e articula sozinha toda trama que levará à morte vários personagens em diferentes momentos. Ela é também quem resolve todos os problemas de Jasão a partir do momento que o  conhece, sendo importante peça no seu percurso “heróico” e constituindo-se também numa heroína trágica.

Ai vc reescreve e coloca :

Segundo Pinna (2017) Medeia é a articuladora de toda ação dramática, resolvendo os problemas de Jasão e constituindo-se numa personagem trágica.

Perceba que vc disse a mesma coisa, só que com outras palavras. Mas vc não diz isso sozinha, então, tem que citar de onde veio isso, entende?

Aqui é um blog, não tem página. Mas tem autoria. Tem data. E tem o endereço, que é o link. Meu nome é Lindnoslen Guelnete Costa Pinna. Na referência, vem primeiro o sobrenome, seguido das iniciais , assim: PINNA, L. G.C. Mas aqui assino o blog como Guel Pinna. Então ficaria: PINNA, G.

Pesquise... Tem esse video e muito mais aquii na rede! É só procurar!


MEDÉIA EM TRÊS CONTEXTOS: RESENHA CRÍTICO-INFORMATIVA DO FILME DE PASOLINI, A PARTIR DO CONCEITO DE POÉTICA DE ARISTÓTELES E DE APROXIMAÇÕES COMPARATIVAS COM A MEDÉIA EURIPIDIANA

INTRODUÇÃO

O objetivo deste ensaio é contextualizar  o conhecimento por meio de uma análise que intercruza de forma somativa o texto de a Arte poética de Aristóteles, o filme Medéia de Pasolini e o texto Medea de Eurípedes.
Não é uma tarefa simples porque todas as três obras de referência são complexas e repletas de uma linguagem semiótica peculiar. Medéia é densa pela sua temática e carregada de signos que poderiam ser aprofundados nos mais variados aspectos. Já o filme, que particularmente não gostei, também necessita de uma análise menos superficial para que se possa perceber sua poética inscrita e acessível apenas quando se tem um pré-conhecimento da obra de Pasolini. E a Arte poética de Aristóteles, na sua rica estrutura e ambiguidade, requer um vasto conhecimento de termos técnicos importantes, tais como:
  • Mimesis ou "imitação", "representação".
  • Catharsis ou "purgação", "purificação", "esclarecimento".
  • Peripeteia ou "reversão".
  • Anagnorisis ou "reconhecimento", "identificação".
  • Hamartia ou "erro de cálculo" (entendida no Romantismo como "falha trágica").
  • Mythos ou "roteiro", "argumento".
  • Ethos ou "caráter".
  • Dianoia ou "pensamento", "tema".
  • Lexis ou "retórica", "fala".
  • Melos ou "melodia", "música".
  • Opsis ou "espetáculo". (WIKIPEDIA, 2017a)
Segundo Malhadas (2017) A tragédia surge durante as Grandes Dionisíacas, também conhecidas por Dionísiacas Urbanas e que eram grandes celebrações em honra ao deus Dioniso e representavam um dos eventos mais importantes da polis.
A cada nova primavera, homens e mulheres se reuniam no théatron para assistir a peças que representavam velhos mitos recriados pelas mãos dos dramaturgos. Dessa forma, os festivais representavam não apenas uma instituição religiosa, mas faziam parte da vida política e social. [...] Dentre os espetáculos, tínhamos a tragédia grega. No âmbito desse gênero de produção dramática, importa destacar três nomes que sobreviveram às intempéries, às falácias do tempo e da memória: Ésquilo, Sófocles e Eurípides. (ANJOS, 2014, p. 61)
Artistóteles (1991) em sua Arte poética define o que seriam tragédia e comédia, uma divisão de gêneros a primeira imitaria os homens virtuosos e superiores e a segunda imitaria os viciosos e inferiores. “A mais bela tragédia é aquela cuja composição deve ser, não simples, mas complexa; aquela cujos fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão.”  
Medéia não é uma personagem que surge em Eurípedes, visto que ela é “o resultado da síntese de diversas sequências míticas”, onde, dentre outras coisas, “sobressaem características como a ascendência divina, o temperamento indomável, a irracionalidade/racionalidade e o desejo de vingança”, por exemplo. A  Medéia euripidiana é portanto a versão que viria a influenciar a obra de muitos autores, dentre eles Nelson Rodrigues, Chico Buarque de Holanda e José Triana. (ANJOS, 2014)

MEDÉIA E EURÍPEDES

Medéia (em grego, Μήδεια) é uma tragédia grega de Eurípides, datada de 431 a.C. Conta a história de uma princesa bárbara, filha do rei Eetes, da Cólquida, região localizada no sul do Cáucaso  (atualmente, a Geórgia). Sua primeira encenação ocorreu em 431 a.C. no festival das Dionisíacas urbanas, onde três dramaturgos competiam entre si, cada um escrevendo uma tetralogia, tendo Eurípides apresentado além de Medeia três peças que se perderam: as tragédias Filotetes e Díctis e a sátira Theristai. (WIKIPEDIA, 2017e)
Eurípides ficou com o último lugar, já que sua Medéia causou muita controvérsia. Ele concorreu com Eufórion, o filho do famoso dramaturgo Ésquilo, que levou o primeiro lugar e Sófocles, seu principal rival.
A peça é centrada na ação entre dois atores, simples de encenar, no entanto, de grande efeito moral e psicológico. Os encontros entre Medéia e a Nutriz, o mensageiro, Jasão, Creonte e Egeu dão conta de toda história. Ela consegue manipular a todos e articula sozinha toda trama que levará à morte vários personagens em diferentes momentos. Ela é também quem resolve todos os problemas de Jasão a partir do momento que o  conhece, sendo importante peça no seu percurso “heróico” e constituindo-se também numa heroína trágica.
Medéia traz consigo mais um dado de alteridade; ela é uma personagem regida por um estatuto religioso sui generis, um estatuto condizente com sua proveniência meio divina, meio humana, e coroada pelos seus dons mágicos, que se encarregam de estabelecer o contato entre esses dois universos nela presentes. A magia de Medéia centrava-se em um saber, o saber ligado ao uso do phármakon. Medéia mesma diz-se sábia em relação aos phármaka, e sábia por natureza. (CAIRUS, 2005, p.2)
O mito de Medéia insere-se no ciclo narrativo dos Argonautas. Jasão é  criado  pelo centauro Quíron, que diferentemente de seus pares, era inteligente, civilizado, bondoso, e célebre por seu conhecimento e habilidade com a medicina. No filme de Pasolini, é  o personagem que monologa e nos conta sobre a necessidade de Jasão recuperar seu trono das mãos de seu tio Pélis, que temendo a profecia de que seria morto pelo herói, lhe envia para uma missão impossível. (WIKIPEDIA, 2017 b)
Jasão busca ajuda de outros heróis e um arauto é enviado por toda a Grécia a fim de agregar heróis que estivessem dispostos a participar desta difícil empreitada. Aproximadamente cinquenta jovens se apresentaram, todos eles heróis de grande renome e valor. Cada um deles desempenhou na expedição uma função específica, de acordo com suas habilidades. Eles eram os  argonautas (em grego : "Ἀργοναῦται ),  tripulantes da nau Argo, comandados por Jasão com a missão de conquistar o Velocino de ouro. (WIKIPEDIA, 2017 b)
Dentre os argonautas, destacamos Hércules, Orfeu, Heitor, Orion e Teseu. Não é uma história simples. Há todo um encadeamento de outras narrativas, com seus mitos próprios e quando analisamos apenas Medéia, estamos elegendo apenas uma das histórias.
Após diversas aventuras, finalmente chegam à Cólquida, e ao rei  Eetes, pai de Medéia. Ela é conhecida por suas habilidades na arte da feitiçaria e apaixonou-se perdidamente Jasão, não medindo esforços para auxiliá-lo nas árduas tarefas que o rei impôs como condição para entregar-lhe o talismã, tais como arar um campo com touros que cospem fogo, semear os dentes de um dragão, lutar com o exército que brota dos dentes semeados e, por fim, passar pelo dragão que guarda o próprio Velocino. Jasão só conseguiu executar as tarefas porque Medéia usou de seus poderes para ajudá-lo. (WIKIPEDIA, 2017 d)
Com o Velocino nas mãos, Jasão foge com Medeia e enfrenta várias aventuras na volta para casa. O rei Pélias é morto, cumprindo a antiga profecia. E para evitar serem mortos pelo seu pai, Medéia trai o irmão Absirto, que morre pela espada de Jasão numa emboscada.
Eurípides vai evocar justamente essa personagem estranha e ainda vai dar-lhe um perfil mais contrário à pólis O que os atenienses terão como espetáculo é uma peça que gira toda ela em torno de uma mulher estrangeira, feiticeira, ativa, passional, que eleva a sua paixão acima do universo doméstico, acima do que deveria justificar a sua existência, acima mesmo de sua prole. (CAIRUS, 2005, p.3)
Após dez anos de casamento e já com dois filho Jasão dispensa com a já envelhecida Medéia,  pretende se  casar com a jovem Glauce, filha do rei  Creonte. Essa rejeição e traição do objeto de sua paixão, desencadeia em Medeia sentimentos terríveis que a levam a perda da razão.
Medéia rompe com os modelos maternais em nome de seus intensos sentimentos que passam de um paixão desmedido ao ódio sem fronteiras, descambando no assassinato de nada menos que seus principais oponentes e até mesmo seu pai, seu irmão e finalmente seus dois filhos.

MEDÉIA E ARISTÓTELES

Artistóteles (1991) em sua Arte poética define o que seriam tragédia e comédia, uma divisão de gêneros a primeira imitaria os homens virtuosos e superiores e a segunda imitaria os viciosos e inferiores. “A mais bela tragédia é aquela cuja composição deve ser, não simples, mas complexa; aquela cujos fatos, por ela imitados, são capazes de excitar o temor e a compaixão.”  
Por esta ótica, Édipo é uma tragédia perfeita, pois por desconhecer sua origem, ele comete o erro trágico, chegando a adequada comoção (kommós), requerida para a catarse (katársis) por parte do espectador. Além disso, na tragédia ideal a peripécia deve decorrer da hamartía, para que o herói reconheça que errou (anagnórisis); quando os acontecimentos se devem à ação de forças superiores às do herói, por exemplo, não há erro, nem reconhecimento, e a tragédia é inefetiva. (WIKIPEDIA, 2017d)
Medéia é a heroína clássica e isto é evidenciado pela forma como se conduz em toda peça. E o final, sem remissão dos erros e com o deus ex machina presente na forma do carro do Sol também é criticada por Aristóteles, mesmo ele dizendo que Eurípedes é o mais trágico dos autores. Também está ausente o aspecto bom da personagem. Comparada com Édipo, por exemplo, vemos toda culpa do personagem, que se pune automutilado-se. Medéia escapa ilesa e ainda faz uma aliança com Egeu que lhe daria a possibilidade de encontrar um final feliz.
Aristóteles, que parece não considerar o suporte político do espetáculo trágico, critica duramente o aparecimento de Egeu na peça. De fato, Egeu passa por Corinto por estar a caminho de Trezena, para que Piteu o ajude a esclarecer um oráculo obscuro que deveria ensinar-lhe o que fazer para gerar filhos Seria, contudo, interessante pensar em quem é Egeu. Seu surgimento na peça parece, à primeira vista, justificar-se pela lembrança que ele traz à Medéia acerca do valor que a estirpe heróica atribui à descendência. Essa lembrança naturalmente influenciará na forma que Medéia escolherá para vingar-se de Jasão. Mas não seria preciso trazer à cena um personagem tão significativo como Egeu apenas para isso. (CAIRUS, 2005, p.4)
E diferentemente da fórmula criada por Aristóteles, o final de Medéia não leva a catarse. Ela simplesmente escapará de forma inusitada do sofrimento e dor que os heróis sentem ao final de seu percurso trágico.
De todos os que têm alma e pensamento, nós, mulheres, somos a criatura mais infeliz. Primeiro, é preciso, com o máximo de bens, comprar um marido, e tomar o déspota de nossos corpos. Esse mal é mais doloroso do que o próprio mal. (.....) Dizem que vivemos uma vida sem perigos, em casa, enquanto eles guerreiam com a lança; e pensam mal, pois preferiria eu três vezes lutar com o escudo a parir uma única vez. (EURÍPEDES,
Mas esta também é uma obra que nos mostra a condição da mulher ateniense, inscrita numa sociedade machista, patriarcal e que relegava as mulheres uma condição de subserviência e inferioridade. Se nos dias atuais ainda há diferenças sociais e culturais entre homens e mulheres, imaginem o cenário grego do século IV a. C. E Medéia “ousou ultrapassar a misoginia popular, ousou dizer no teatro a condição atroz da mulher, confinada à casa, excluída da vida pública. [...] “Não há mulher grega que tenha ousado isso.” (HIRATA, 1991, p. 14)
PASOLINI E MEDÉIA
A experiência de Pasolini com a tragédia grega começa quando a pedido de Vittorio Gassman, em 1959, ele realiza a tradução da Oréstia, de Ésquilo. Em La Grecia secondo Pasolini: mito e cinema, ele afirma que um ponto importante para a poética pasoliniana era “a assimilação de alguns elementos arcaicos por parte do mundo moderno, o momento preciso da síntese”. E ainda cita Pasolini: “A incerteza existencial da sociedade primitiva permanece como categoria da angústia existencial ou da fantasia, na sociedade evoluída” (FUSILLO, 1996 apud MACIEL, 2017).
A estética pasoliniana não prima por aspectos óbvios de construção fílmica. Ele realiza uma desconstrução do que concebemos pós-modernamente como “melodramático” e insere elementos próprios de sua   abordagem, convergindo para uma espécie de releitura “dos temas escolhidos como significativos, realiza uma releitura da tragédia que, saindo da superfície dos conflitos, busca os seus significados míticos. ” Serão criados e inseridos “signos fílmicos – imagens e sons – que, extrapolando os significados contidos no texto dramático de Eurípides, apontarão para uma nova forma de obra dramática. ” (MACIEL, 2017)
A entrada em cena desses signos fílmicos possibilitará o preenchimento de lacunas deixadas pelo texto poético, assim como pelas suas sucessivas interpretações. Outra lacuna preenchida esteticamente por Pasolini é o conflito trágico existente no ser humano, representado através da segunda aparição do Centauro, que aponta para uma leitura essencialmente dialética feita por Pasolini do trágico. [...] Os signos fílmicos – a trilha sonora, as máscaras representadas pelos demorados planos fechados, a paisagem primitiva e os longos planos-sequência do país de Medéia – tratam de fazer essa conexão do imaginário moderno sobre o que seja o mito com o profundo incômodo causado pela visão de cenas não processadas pela razão moderna, mas vistas em estado de natureza. Paradoxalmente, a visão dessas cenas plenas de primitividade é proporcionada na tela do cinema, a arte da modernidade por excelência. [...] Pasolini realiza uma crítica a respeito da personagem trágica de Medéia, da sua tragicidade. (MACIEL, 2017)
Pasolini realmente traz essas longas pausas, os closes e um ritmo que é próprio do chamado filme de arte, mas não chega ser agradável. Pelo contrário, é cansativo e entediante. Mas quando nos esforçamos para entender sua poética, fica claro que a intencionalidade dele está presente em toda obra e não é mero fruto de algo acidental.
Existe uma certa “receita” para a tragédia e Medéia se afasta disso, pois ela é uma figura trágica e não a heroína trágica aristotélica. A Medéia de Eurípides é grega, caracterizada pelo seu temperamento; a Medéia de Pasolini é sempre bárbara, embora se desconhecendo – “uma ânfora cheia de conhecimento que não me pertence” –, mas a origem não se perde (“ainda sou a mesma”). (MACIEL, 2017)
[...] na verdade, está possessa de uma natureza trágica apaixonada, absolutamente incontrolável tanto no amor quanto no ódio, o que a torna dramática, mas não é martÛa ( harmartía): é a mulher por inteiro. [Medéia] é trágica à medida que as suas paixões são mais fortes que a sua razão. [...] no entanto, não é uma heroína trágica, tal como temos compreendido o termo até agora. É demasiado extrema, demasiado simples. Não há aqui o estudo de um caráter, [...] porquanto a caracterização está, de qualquer modo, concentrada na paixão dominadora e a situação é manejada de forma a estimular ao máximo este fato. (KITTO, 1990, p. 20).
Após discorrer sem esgotar o tema sobre sobre mágoa, ira, traição, dor, ódio, violência, dissimulação, vingança, feitiçaria, sagrado, profano, deuses e reis enfim, os elementos que alimentam o caldo de cultura que geram a verdadeira tragédia grega, me resta concluir que Medéia é uma sem precedentes, marcada pela criatividade e liberdade de Eurípedes em transgredir, não levando em consideração os cânones já impostos pelos concursos das Dionisíacas e os apelos estéticos vigentes em sua época.
Gostaria de ter tido mais tempo para analisar melhor os inúmeros trabalhos acadêmicos que encontrei, bem como obras inspiradas na peça, tais como Gota d´água de Chico Buarque de Holanda e Anjo Negro de Nelson Rodrigues.
Apesar de não fazer menção no texto, também li sobre casos reais de pessoas que cometeram infanticídio, no Brasil e na Inglaterra. Também caberia um viés psicológico dos personagens, mas para isso eu necessitaria de mais tempo para leitura e interpretação.
Creio que não foi um trabalho de simples execução para estudantes de primeiro semestre, muitos oriundos do ensino médio que não ensina a construir resenhas e expressar opiniões.
Espero ter atingido o objetivo. O percurso foi árduo, porém profícuo. Evitei opiniões, mas tudo que não tem referência é uma construção pessoal  a partir das leituras que realizei e de meu próprio senso crítico.
E para finalizar, com um trecho da música de Chico Buarque, Gota d´água :


Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor


Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água




Guel Pinna


Salvador, 21.06.2017
REFERÊNCIAS
ANJOS, S. A. Medeia em seus espelhos: figurações do phármakon em Eurípides, Nelson Rodrigues e José Triana. Tese de Doutorado. UFMG. 2014. Disponível em: Acesso em 20 jun. 2017.
ARISTÓTELES. Arte poética. Tradução, comentários e índices analítico e onomástico de Eudoro de Souza. São Paulo, Nova Cultural, 1991 (Os Pensadores vol 2).
CAIRUS, H. Medéia e seus contrários.  Revista de Letras, n.27,vol.1/2, Fortaleza, jan./dez., 2005. Disponível em: Acesso em 20 jun. 2017.


COSTA, A. Ciência em Foco – Medeia. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OCL9aHFizUE Acesso em 20 jun. 2017.
DUARTE, A. S. Literatura Fundamental 70: Medéia. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=pjnYq8bQbhw> Acesso em 19, jun. 2017
EURÍPIDES. Medea. In: Obras dramáticas de Eurípides
FUSILLO, M. La Grecia secondo PasoliniFirenze: La Nuova Italia, 1996.
HIRATA, F. Y.. Medéia: uma apresentação. In: EURÍPIDES. Medéia. Trad. de José Antonio Alves TORRANO. São Paulo: Hucitec, 1991.
KITTO, H.D.F. Tragédia gregaEstudo literário. V. II. Coimbra: Armênio Amado, 1990.
MACIEL, U. Medéia, de Pasolini uma tradução desconstrutora. Disponível em : < http://www.filologia.org.br/ixcnlf/13/07.htm> Acesso em 20 jun. 2017.
MALHADAS, D. As Dionisíacas urbanas e as representações teatrais em Atenas. Disponível em : <http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:VeJh1f221eMJ:www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/literatura_filologia/article/download/7101/6103+&cd=2&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br> Acesso em 16 jun. 2017.
PASOLINI, P. P . Édipo Rei. Direção e roteiro: Pier Paolo Pasolini. Produção: Arco Film (Roma). Produtor: Alfredo Bini. Filmado em abril-junho 1967. Duração: 104 min. 1º Prêmio Festival de Veneza, 1967. Baseado em Édipo Rei e Édipo em Colono, de Sófocles.
PASOLINI, P. P. Medéia. Direção e roteiro: Pier Paolo Pasolini. Produção: San Marco SpA (Roma), Le Films Number One (Paris) e Janus Film und Fernsehen (Frankfurt). Produtores: Franco Rossellini; Marina Cicogna. Filmado em maio-agosto 1969. Duração: 110 min.
WIKIPEDIA, Poética (Aristóteles) Disponível em:
__________, Argonautas. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Argonautas> Acesso em 19 jun 2017b .
__________, Eurípedes. Disponívem em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Eur%C3%ADpides> Acesso em 19 jun 2017c .
__________, Harmatia. Disponível em:  <https://pt.wikipedia.org/wiki/Hamart%C3%ADa> Acesso em 19 jun 2017d.

_________< Medéia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Medeia> Acesso em 18 jun. 2017e.

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